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"Comunicando o amor de
Deus através da música!"

Centenário do nascimento de Dom José D'Angelo Neto

30 OUT 2017
30 de Outubro de 2017

[Dom João Bosco Óliver de Faria, Arcebispo Emérito de Diamantina/MG]

 

Convivi, muito de perto com ele, nos trinta e um dos seus  últimos trinta e três anos de vida, residindo por três  anos, como seu Bispo Auxiliar na mesma casa, na reta final de sua doença e vida.

Nesta data centenária de seu nascimento, quero partilhar com os leitores, algumas notas significativas de sua vida, como pessoa e como sacerdote.

Deixando para outra oportunidade algo mais completo, limito–me a relatar algumas de suas virtudes que mais me impressionaram:

Um grande e profundo amor ao sacerdócio e à Igreja. Este seria seu cartão de identidade. Isto sempre percebi nele, em todos os tons, prosa e verso. Trabalhou sempre pela unidade da Conferência Episcopal e sua fidelidade à Roma, ao Santo Padre. Na doença que o levou, ofereceu sua vida pela unidade da Igreja e da Conferência Episcopal.

Uma pobreza de vida em todos os sentidos: seus  pertences pessoais, suas roupas. Nada além do conveniente. Deixou no banco uma mui modesta soma a ser repartida – conforme seu testamento – a algumas entidades de caridade. Viveu pobremente, morreu pobre. Quando o vento frio do Sul de Minas subia  pelas gretas do assoalho da sala de jantar do palácio arquiepiscopal e gelava nossas pernas, insisti, por várias vezes, em colocar um tapete sintético de 3 milímetros de espessura (o mais barato no mercado) a forrar o chão por baixo da mesa, ele recusou terminantemente. Foi difícil convencê-lo a colocar um outro tapete por baixo de sua cama, para que ao se levantar, não pisasse o chão frio e complicasse sua saúde.

Raramente se permitiu uma viagem de lazer. Quando a fez, foi em companhia de outros quatro bispos. Suas viagens para o Concílio significavam, simplesmente, uma passagem Brasil – Roma – Brasil. Foi uma vez a Israel a convite do Governo de Israel. Não conheceu Lourdes nem Fátima. Não visitou as capitais brasileiras, a passeio. Não frequentava restaurantes, nem em Pouso Alegre nem em outras cidades. Sua mesa desconhecia bebidas alcóolicas.

Nasceu em família pobre e sempre amou a pobreza. Foi ele que, em Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, acrescentou o adjetivo “evangélica” ao texto do objetivo Geral da Ação Pastoral e Evangelizadora da Igreja no Brasil: “Por uma “evangélica” opção preferencial pelos pobres... . Sua sugestão, imediatamente, foi aprovada pelo plenário da Assembleia. Um grande respeito ao nome e à boa fama dos outros. Uma vez um sacerdote quis saber a razão pela qual um seminarista fora aconselhado a sair do seminário. Ele, apenas, respondeu: “- Seu irmão já morreu e não pode se defender. Eu, não tenho o que falar”! Testemunhei outras atitudes suas semelhantes.

Amava a vida, queria viver. Aceitou a doença (mieloloma múltiplo), ao longo de sete anos, com suas dores fortes e limitações. Jamais reclamou. Quando, no hospital, o movimento das vértebras pinçava algum nervo, acontecia uma pontada violenta de dor. Gemia e dizia em seguida, às vezes suando de dor: “Deus seja louvado”! Sua resignação era impressionante.

Uma grande capacidade de perdão. Sofreu muito com a ingratidão permanente de um sacerdote. Nunca reclamou ou tomou atitudes disciplinares contra os que o ofendiam.

Deixarei para outra oportunidade escrever sobre sua ação pastoral, seu zelo apostólico, a organização administrativa  e  patrimonial da Arquidiocese, a construção do Seminário e da Cúria em Pouso Alegre bem como da residência dos estudantes de teologia em Taubaté. Não poderá ficar esquecida a força de sua personalidade na criação da Faculdade de Medicina em Pouso Alegre. 

Relato um depoimento precioso e desconhecido: quando o Padre José Demerval Montalvão, Provincial dos Lazaristas (Padres da Congregação da Missão) visitou, em seu leito de morte, o então Núncio Apostólico no Brasil, Sua Ex.a Rev.ma Dom Armando Lombardi, esse confidenciou-lhe, numa análise de sua missão como Núncio: “Dom José D`Angelo Neto foi a melhor nomeação entre todas que fiz no Brasil”.


Dom José, muito obrigado por me ter ordenado sacerdote e bispo!

Tento continuar seguindo seus luminosos passos!

Descanse na glória e na festa eterna do Céu!

 

 

[Artigo publicado no site da Rádio Vaticano em 12 de Outubro de 2017]



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